Foto: Fábio Mozzer.
PINTURAS DE CANTAGALO - Quando nós chegamos na
boca do rio Cupari, limite sul da Floresta Nacional do Tapajós, nos
perguntamos se não era o caso de mudar um pouco o planejamento da
expedição e ir apreciar de perto o trabalho daquele artista dos tempos imemoriais.
Eu tinha lido algo sobre a "pedra de Cantagalo" no livro que Antônio
Manuel Gonçalves Tocantins escreveu, em 1887, sobre os índios
Mundurucus, mas naquele momento a sua localização era algo muito vago
pra mim.
"No lugar conhecido pela denominação de Cantagalo,
escreveu Tocantins, vêem-se desenhadas sobre a superfície de um morro,
de cerca de cem metros de altura a prumo pelo rio, quinze figuras".
Ninguém sabe até hoje o seu significado, nem os mais idosos mundurucus
"que já as encontraram taes quaes estão".
"São de cor
vermelha-escuro, continua o estudioso, como de ocre, e estão cerca de
oito metros acima do nível máximo das águas no tempo das cheias de
inverno. Hoje seria impossível a um homem traçá-las àquela altura ainda
mesmo com auxilio de andaimes, pois à base do morro o rio forma uma
espécie de enseada, onde a corrente é violenta".
Tocantins
conta que tirou "o esboço desses caracteteres, não sei se symbólicos", e
os reproduziu em sua obra. Disse também que mostrou os desenhos aos
mundurucus e estes informaram que "no meio dos campos que se estendem
entre Acupary e Necodemos existem caracteres deste gênero, mais
numeroso".
Viajantes como Fábio Mozer e Anderson Tadeu Pantoja
fizeram fotos da pedra de Cantagalo e as publicaram na internet. Não há
registro, porém, da arte existente no meio dos campos, onde haveria em
maior quantidade.
Algo me dizia que Cantagalo ficava assim
meio frontal à foz do rio Cupari. Para satisfazer o nosso desejo de
conhecer a arte dos mundurucus teríamos então que atravessar para a
outra margem do rio Tapajós e sair perguntando. Com muita sorte
gastaríamos um dia nessa missão.
Fizemos bem em deixar a visita
para outra ocasião. As pinturas rupestres de Cantagalo, confirmei
depois, ficam na margem direita do rio, mas no alto Tapajós, próximo à
foz do rio Crepori, e não Cupari, como equivocadamente chegamos a
pensar.
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